domingo, 24 de maio de 2020

Mensagens mostram que Bolsonaro informou Moro sobre demissão de Valeixo

O presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro da Justiça, Sergio Moro Foto: Adriano Machado/Reuters (3.out.2019)


Por: Visão do Araripe

Novas mensagens mostram que o presidente da República Jair Bolsonaro informou o então ministro da Justiça Sergio Moro de que iria trocar o comando da Polícia Federal horas antes da reunião ministerial realizada no dia 22 de abril.
A informação foi revelada pelo jornal O Estado de S.Paulo e confirmada pela CNN. Foram quatro mensagens trocadas entre Bolsonaro e Moro. “Moro, Valeixo sai esta semana”, disse Bolsonaro por volta das 6h20. Em outra, o presidente afirma “Está decidido”. Na terceira diz: “Você pode dizer apenas a forma. A pedido ou ex oficio”. 
Moro apenas responde às 6h31: “Presidente, sobre esse assunto precisamos conversar pessoalmente. Estou ah disposição para tanto”. Uma fonte informou à CNN que as mensagens são verdadeiras, e que constam no inquérito que investiga a suposta interferência de Bolsonaro na Polícia Federal. 
Os dois se encontraram pessoalmente horas mais tarde, na reunião ministerial cujo conteúdo foi divulgado por ordem do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal. O encontro é uma prova, segundo Moro, de que Bolsonaro interferiu na Polícia Federal.
Cobranças
A sequência de mensagens à qual a CNN teve acesso mostra o presidente reclamando da falta de informações ao ex-ministro. “Força Nacional, Ibama e  Funai.... As coisas chegam por mim por terceiros.... Não vou me omitir", escreveu o presidente, que também enviou vídeos a Moro.
Moro explica a Bolsonaro que a Força Nacional e a Funai não tinham envolvimento na quebra de maquinários em fiscalização ambiental. Que a medida tem sido adotada pelo Ibama. Bolsonaro volta a enviar a Moro informações divulgadas na imprensa: "Amanheça bem desinformado", reclama o presidente.
As mensagens em poder do STF também mostram Bolsonaro dizendo a Moro, no dia 23 de abril, que uma investigação contra deputados federais aliados a ele seria "mais um motivo para a troca" do diretor-geral da Polícia Federal — algo que havia sido divulgado por Moro após anunciar sua demissão.
Na réplica ao presidente, o então ministro da Justiça e Segurança Pública afirma que o responsável pelo inquérito citado por Bolsonaro é o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e que a Polícia Federal apenas executa as diligências determinadas pelo magistrado.
Valeixo foi exonerado no dia 24 de abril, dois dias depois. A exoneração ocorreu "a pedido", segundo decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo ministro da Justiça e publicado no Diário Oficial da União.
O episódio culminou no pedido de demissão de Moro, que, entrevista coletiva afirmou que não assinou a exoneração e que esta não foi solicitada pelo delegado da PF. Na ocasião, o ex-ministro também acusou Bolsonaro de interferir na corporação. 
Moro afirmou que a reunião cujo conteúdo foi divulgado nesta sexta-feira é uma prova da interferência presidencial na PF. O vídeo foi liberado por ordem do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, que também autorizou um inquérito para apurar as alegações de Moro. 
Na decisão, o ministro afirmou que "se revela legítima a instauração de procedimento investigatório contra qualquer Presidente da República, especialmente quando a ele inaplicável, como sucede na espécie, a cláusula de imunidade penal temporária".
Na reunião, Bolsonaro diz que interferiria em todos os ministérios, se fosse preciso, e cobra relatórios de informação da PF (Polícia Federal), das Forças Armadas e da Abin (Agência Brasileira de Inteligência). Bolsonaro afirma que não pode ser "surpreendido com notícias".
"Eu tenho o poder e vou interferir em todos os ministérios, sem exceção. Nos bancos eu falo com o Paulo Guedes, se tiver que interferir. Nunca tive problema com ele, zero problema com Paulo Guedes. Agora os demais, vou! Eu não posso ser surpreendido com notícias. Pô, eu tenho a PF que não me dá informações. Eu tenho as inteligências das Forças Armadas, que não tenho informações. Abin tem seus problemas, tenho algumas informações", disse aos ministros.
Fonte: Gabriela Coelho, da CNN em Brasília.

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