Herbicidas Roundup, da Monsanto — Foto: Arquivo/Mike Blake/Reuters
O grupo alemão Bayer, que comprou a Monsanto, rejeitou fortemente as
acusações de que o herbicida Roundup, à base de glifosato, seja cancerígeno.
Por:
Visão do Araripe
Um júri de San Francisco, nos Estados Unidos, decidiu
na terça-feira (19) que o agrotóxico mais usado do Brasil e no mundo foi um
"fator importante" no desenvolvimento do câncer de um homem.
Trata-se
do herbicida Roundup, à base de glifosato, principal ingrediente ativo de
diversos pesticidas usados em plantações e jardins.
No mês passado, a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) propôs manter liberada a
venda de glifosato no Brasil, já que não haveria evidências científicas de que
a substância cause câncer, mutações ou má formação em fetos.
O grupo alemão Bayer,
que comprou a Monsanto, fabricante do produto, rejeitou fortemente as acusações
de que a substância seja cancerígena.
Mas o júri decidiu por
unanimidade que o pesticida contribuiu para o linfoma não Hodgkin (LNH) de
Edwin Hardeman, de 70 anos, que vive na Califórnia.
A próxima etapa do
julgamento vai considerar a responsabilidade e os danos causados pela Bayer.
Durante a segunda fase,
que começa nesta quarta-feira, espera-se que os advogados de Hardeman
apresentem evidências mostrando os supostos esforços da Bayer para influenciar
cientistas, agências reguladoras e a opinião pública sobre a segurança de seus
produtos.
O grupo alemão, que
adquiriu o Roundup como parte da aquisição da concorrente americana Monsanto
por US$ 66 bilhões, disse que ficou desapontada com a decisão inicial do júri.
"Estamos confiantes
de que as evidências na segunda fase vão mostrar que a conduta da Monsanto foi
apropriada e que a empresa não deve ser responsabilizada pelo câncer de
Hardeman", declarou a empresa.
A Bayer continua "a
acreditar firmemente que a ciência confirma que os herbicidas à base de
glifosato não causam câncer".
Este é o segundo
processo de cerca de 11,2 mil ações judiciais contra o Roundup a ir a
julgamento nos EUA.
Em
agosto do ano passado, a Monsanto foi condenada em primeira instância pela
Justiça americana a pagar US$ 289 milhões (R$ 1,1 bilhão) a um homem com câncer
- ele alegava que a doença foi causada por herbicidas da empresa, como o Roundup.
As ações da Bayer
despencaram na época.
A indenização foi
posteriormente reduzida para US$ 78 milhões e está em fase de recurso.
Uso freqüente
A Bayer
argumenta que décadas de estudos e avaliações regulatórias mostraram que o
agrotóxico é seguro para uso humano.
Hardeman usou o
herbicida com regularidade de 1980 a 2012 em sua propriedade em Sonoma County,
na Califórnia, e acabou sendo diagnosticado com linfoma não Hodgkin, que tem
origem nas células do sistema linfático.
Seus advogados, Aimee
Wagstaff e Jennifer Moore, afirmaram em comunicado conjunto que seu cliente
estava "satisfeito" com a decisão.
"Agora podemos nos
concentrar nas evidências de que a Monsanto não adotou uma abordagem objetiva e
responsável para a segurança do Roundup", acrescentaram.
"Em vez disso, fica
claro pelas ações da Monsanto que a empresa não se importa particularmente se
seu produto está, de fato, causando câncer às pessoas, e em contrapartida se
concentra em manipular a opinião pública e enfraquecer quem levanta preocupações
genuínas e legítimas sobre a questão."
Outro julgamento
envolvendo o Roundup está marcado para começar no dia 28 de março no tribunal
estadual de Oakland, também na Califórnia - um casal com linfoma não Hodgkin
afirma que a doença foi causada pelo pesticida.
O que é glifosato?
O
glifosato foi introduzido pela Monsanto em 1974, mas sua patente expirou em
2000, e agora o produto químico é vendido por vários fabricantes. Nos EUA, mais
de 750 produtos contêm a substância.
Em 2015, a Agência
Internacional para Pesquisa sobre o Câncer, da Organização Mundial de Saúde
(OMS), concluiu que o glifosato era "provavelmente cancerígeno para
humanos".
No
entanto, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA insiste que é seguro quando
usado com cuidado.
A Autoridade Europeia de
Segurança Alimentar (EFSA, na sigla em inglês) também afirma que é improvável
que o glifosato cause câncer em humanos.
Em novembro de 2017, os
países da União Europeia votaram para a renovação da licença do glifosato,
apesar das campanhas contra a substância.
Fonte: BBC
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