O ministro da Economia Paulo Guedes (23.mar.2019) Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Por: Visão do Araripe
O
Brasil completará ao menos uma década de rombos sucessivos nas contas públicas,
segundo o diagnóstico mais recente do Ministério da Economia. As finanças estão
no vermelho desde 2014 e seguirão nesse terreno até pelo menos 2023. No ano que
vem, as despesas vão superar as receitas em R$ 149,6 bilhões, mas esse
resultado ainda pode piorar nas próximas projeções porque, neste momento, o
governo não consegue medir com precisão o impacto da pandemia do novo
coronavírus na arrecadação em 2021.
Esses
números constam do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2021,
apresentado na quarta-feira (15) pelo governo ao Congresso. "Estamos
estimando o oitavo ano de déficit primário em 2021. É algo inédito. Não tem
similar na série histórica do Brasil e nem mesmo comparativamente no mundo.
Pelo menos naqueles países em que há possibilidade de comparação direta",
disse o secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery
Rodrigues.
Para
2022, o governo espera déficit de R$ 127,5 bilhões. No ano seguinte, rombo de
R$ 83,3 bilhões. O governo diz que fará todo o possível para mudar esse
cenário, passada a crise da covid-19. "Mas há, sim, uma probabilidade de
termos uma sequência de dez anos de déficit primário", reconheceu Waldery.
O
déficit primário indica quanto o governo deve gastar acima da arrecadação do
ano, sem contar os gastos com a dívida pública. Para pagar essas despesas acima
da renda, a União precisa emitir mais títulos da dívida pública.
O
endividamento brasileiro deve dar "um salto" nos próximos anos
segundo o próprio secretário, podendo fechar este ano entre 85 4% e 90,8% do
PIB, patamares considerados elevados para países emergentes como o Brasil. Nos
anos seguintes, essa proporção continuaria aumentando, mas em ritmo não tão
veloz.
Segundo
Waldery, o governo herdou posições fiscais muito frágeis fez o dever de casa em
2019, mas ainda está muito longe de todo o esforço fiscal necessário para a
economia. É por isso que tanto ele quanto o secretário do Tesouro Nacional,
Mansueto Almeida, chamam a atenção para a importância de acelerar a agenda de
reformas e de concessões e privatizações para mudar o quadro em 2021. As
receitas dessas operações são fundamentais para reforçar o caixa no pós-crise e
reduzir o rombo nas contas.
"A
gente não pode mais ter atraso nessa agenda", disse Mansueto. "O
ministro Paulo Guedes (Economia) vai tentar correr com todo o processo de
privatização. Com o ritmo de economia muito incerto, teremos de fazer um
esforço muito grande por receita extraordinária, e a melhor fonte é
privatização."
Diante
das incertezas, o governo previu um mecanismo mais flexível para a meta fiscal
do ano que vem e deixou a porta aberta para que o rombo possa ser alterado na
própria formulação do Orçamento ou até mesmo durante a execução das despesas. A
principal âncora da política fiscal será o teto de gastos, mecanismo que limita
o avanço das despesas à inflação. Não será possível conceder novos benefícios
tributários.
Em compensação, os
ministérios ficarão livres de bloqueios em despesas decorrente de frustração de
receita, sem risco de apagão na máquina pública. "Não haverá
contingenciamento no próximo ano, independentemente de haver frustração de
receitas", disse Mansueto. A única hipótese, segundo ele, é se houver
aumento ou criação de despesa obrigatória, limitada ao teto, o que exigirá
redução em outro gasto do governo.
Fonte: Estadão Conteúdo
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