Foto: Chance Agrella/Freerange Stock
Por: Visão do Araripe
Com a alta de quase 30% do dólar só no primeiro trimestre de 2020, o real é a moeda com a maior depreciação do câmbio neste ano considerando um grupo com 21 das principais moedas do mundo. A divisa brasileira é seguida no ranking pelo rublo russo, que viu o dólar subir 27% nesse período, e o peso mexicano, com a desvalorização de 26% na taxa de câmbio.
Na outra ponta, estão principalmente moedas fortes como a libra britânica e o euro: nesses três meses, o dólar ficou 5,5% mais barato para os ingleses e 1,3% mais em conta para quem está nos países da zona do euro. Junto ao iene, do Japão, e a libra egípcia, são estas as únicas quatro das 21 moedas consideradas que conseguiram chegar até ao fim de março tendo ficado mais mais fortes em relação à divisa americana.
O dólar está ficando mais caro frente a um grupo grande de moedas do mundo e a crise deflagrada pela epidemia do coronavírus explica uma boa parte o fenômeno. “Em um cenário muito ruim e de grande aversão, as pessoas procuram ativos mais seguros, e é por isso que todos correm para opções como o dólar ou o ouro”, diz o diretor de tesouraria do Travelex Bank, João Manuel Freitas.
O restante da história – que explica não só porque o dólar está subindo no Brasil, mas porque está subindo mais do que nos outros países – passar também pelos problemas domésticos. “O Brasil ainda não definiu totalmente qual será sua política de isolamento contra o coronavírus e já vem de uma economia insegura e de crescimento fraco”, fiz Freitas.
Dólar em alta
Variação em relação a várias moedas - 1o tri/2020
Maior alta desde 2002
Cotado a R$ 4,01 no primeiro dia de janeiro, o dólar chegou a 31 de março, no fechamento desta terça-feira, valendo R$ 5,19. A alta nesses três meses, de 29,5%, foi a terceira pior de todo o plano Real, implantado em 1994 – só perdeu para o primeiro trimestre de 1999 (42,5%), auge da crise cambial que acabou com o câmbio fixo no país, e para o terceiro trimestre de 2002 (36,9%), plena corrida eleitoral que levaria o petista Luiz Inácio Lula da Silva à presidência pela primeira vez.
Sidnei Nehme, diretor executivo da NGO Corretora de Câmbio, menciona o fato de o real brasileiro estar entre as moedas emergentes mais negociadas do mundo, o que acaba fazendo com que seja também mais responsivo aos grandes movimentos globais, porque há sempre muita gente querendo comprá-lo ou vendê-lo de uma vez – se o interessa por países emergentes está em alta, o real sobe muito; quando está em baixa, cai muito.
“O real tem alta uma alta liquidez e acaba sofrendo mais especulação”, diz ele. “É muito diferente do que acontece, por exemplo, com o peso argentino, que está em situação ainda pior que a nossa, mas é bem menos negociado.” O dólar subiu 7,4% em relação à moeda da Argentina no primeiro trimestre deste ano.
Dólar não deveria estar acima de R$ 5
O consenso entre os analistas é de que, de uma maneira ou de outra, o dólar na faixa dos R$ 5,20 está muito acima do que seria o seu custo real, e isso já é uma medida do grau de incerteza dos grandes investidores seja em relação a questões globais, seja em relação ao cenário doméstico.
A taxa de câmbio “ideal” é uma conta feita pelos economistas que leva em consideração fatores como os níveis de preços nos dois países comparados e a diferença de juros entre eles. Os preços são o que definem o custo de um país e os juros, na base, são a remuneração paga pelos seus títulos, e tanto uma coisa quanto a outra tem poder de atrair ou espantar investidores estrangeiros e, com eles, os dólares que trazem ou levam embora.
Para Nehme, da NGO, essa taxa de equilíbrio no Brasil seria mais próxima dos R$ 4,50 atualmente; para Freitas, do Travelex, algo até R$ 5. “Não há sustentação para que o dólar esteja acima de R$ 5; o fato de estar na faixa de R$ 5,20 já reflete a insegurança e toda a volatilidade que estamos vendo nos mercados”, disse Freitas.
Fonte: Juliana Elias Do CNN Business, em São Paulo
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