Com manchas no rosto, no peito e nos braços, Ana Luiza Carvalho, 8, sofria com coceira e dores de cabeça.
Em busca do diagnóstico, a família correu para uma unidade de saúde de Salvador na última semana. Mas foi informada de que o quadro, similar ao de 20 pessoas atendidas no mesmo dia, ainda não tinha resposta.
O mistério tem intrigado laboratórios da Bahia e de seis Estados do Nordeste: o aumento no número de pacientes com sintomas em parte parecidos aos da dengue, mas que têm tido exames descartados para esta e outras suspeitas –como a chikungunya, a "prima" da doença mais famosa neste 2015.
Só na Bahia, dados do governo do Estado apontam ao menos 3.500 casos suspeitos da doença misteriosa, que teve seu pico entre o final de março e o início de abril.
O caso passou a ser tratado como "síndrome exantemática indeterminada", nome dado a doenças que incluem manifestações na pele, mas sem diagnóstico. Doentes também relatam dor de cabeça e no corpo e febre baixa ou ausência de febre.
A secretaria de Saúde da Bahia trabalha com hipóteses distintas. Uma é que seja um tipo (ou mais) diferente de vírus transmitido pelo Aedes aegypti.
Nessa linha de investigação, uma análise de pesquisadores da Universidade Federal da Bahia pode trazer uma resposta para parte dos casos. Ao analisar 25 amostras de sangue em Camaçari, identificaram em oito o zika vírus, transmitido pelo vetor da dengue e inédito no Brasil.
Descoberto em Uganda no fim dos anos 80, ele causa infecção branda e tem como sintomas manchas no corpo, dor nas articulações e, às vezes, conjuntivite. A infecção, em geral, cessa em até sete dias. Não há registro de morte.
"Nossa suspeita é que a doença tenha chegado ao Nordeste com o fluxo de turistas vindos para a Copa", afirma Gúbio Soares, um dos pesquisadores.
Outra possibilidade para alguns dos casos seria uma co-infecção por dengue e chikungunya. A hipótese, porém, é tida como menos provável.
'DENGUE ATÍPICA'
Além da Bahia, há casos com sintomas semelhantes e ainda sem diagnóstico no Pernambuco, Piauí, Maranhão, Rio Grande do Norte, Sergipe e Paraíba, segundo secretarias e o Ministério da Saúde, que participa da investigação dos casos. Os Estados dizem ainda não ter resultado dos exames.
A orientação a médicos tem sido encaminhar casos a laboratórios para testes de dengue, rubéola, sarampo e zika vírus, entre outros.
O governo da Bahia chegou a encaminhar amostras para um laboratório dos Estados Unidos para tentar fazer um mapeamento genético.
No Maranhão, 880 pacientes foram identificados com a chamada "doença sem diagnóstico".
Já em Pernambuco os casos têm sido tratados como "dengue atípica" –lá, exames de alguns pacientes, mesmo sem febre, deram positivo para dengue. "Mas precisamos concluir a investigação, porque isso muda toda a definição que temos de dengue", diz a coordenadora de dengue e chikungunya no Estado, Claudenice Pontes.
O infectologista Carlos Magno afirma que, embora com sintomas diferentes, "não é impossível" que parte dos casos seja dengue.
O problema é que esta doença já se espalhou e chegou até a outra extremidade do estado, causando grande alvoroço na população e que procura o sistema precário de saúde que a cidade disponibiliza e com a falta de medicamentos básicos (exceto buscopan) que é o único remédio que é aplicado nos pacientes que chegam ao Hospital e Maternidade Santa Maria.
Suspeita-se que esta doença já deve ter se espalhado nos estados do Ceará e Piauí, devido ao grande fluxo de pessoas que circulam principalmente em Araripina, cidade que é considerada a capital do Araripe e onde possuem diversas agências bancárias e um comércio de grande variedade, além de empresas do ramo gesseiro.
Fonte: Folha de S. Paulo
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