Criam tribunais para decidir quem pode andar nas ruas
Patrulheiros da moral
Ranier Bragon - Folha de S.Paulo
"Cagão" e
"bosta" foram algumas das delicadezas dirigidas a Gilmar Mendes em um
voo no sábado (27). Dias antes, duas mulheres haviam apupado o ministro do STF
em Portugal. Uma delas disse rogar para que Deus o enviasse sem escalas ao quinto
dos infernos.
Tudo registrado em vídeo por
celulares e espalhado nas redes sociais.
Atos assim falam mais sobre quem
se presta a eles do que qualquer outra coisa. O alvo dos autointitulados
"cidadãos de bem" é pego quase sempre só, tal um colegial
paga-lanches assolado na hora do recreio.
Essa turma de patriotas já
decidiu no seu tribunal particular e inapelável quem pode embarcar em voos
comerciais ou jantar em restaurantes.
Dane-se o contraditório, quem
pensa diferente, o Estado de direito, as leis, as formas mais dignas e menos
covardes de protesto. Em suma, danem-se as instituições democráticas –essas
porcarias todas que "deveriam ser fechadas" porque não "prestam
pra nada", nas palavras de um dos bravateiros do voo de Gilmar.
Nem é preciso dizer que muita
gente que arrota moral e bons costumes nas redes sociais não suportaria 15
minutos de escrutínio sério da própria vida. Nem que toda a bravura surge,
normalmente, quando estão em bando, contra oponente preferivelmente solitário.
Nem que boa parte deseja, na verdade, é a volta de generais a nos ditar goela
abaixo o que fazer ou deixar de fazer.
A história está repleta de
vestais a atirar pedras nas adúlteras, tocar fogo às "bruxas" ou
decidir no berro quem pode ou não andar nas ruas.
Gilmar Mendes mandou soltar alvos
da Justiça contra as quais pesam sérias acusações, entre eles empresário com
quem tem laço familiar. Tem questionável relação com o governo, com encontros a
portas fechadas inimagináveis a um magistrado com pudor institucional. E uma
série de outras práticas controversas.
Nada disso, porém, justifica o grotesco teatro encenado
pelos talibãs da moral, família e bons costumes.
Criam tribunais para decidir quem pode andar nas ruas
Patrulheiros da moral
Ranier Bragon - Folha de S.Paulo
Por magno martins
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