Socialista de “carteirinha” durante 23 anos, o deputado
federal João Fernando Coutinho toma posse neste sábado como o novo presidente
do PROS-PE e anuncia oficialmente o nome de Antônio Souza como pré-candidato ao
Senado. Sem meias palavras, o ex-socialista revela que foi “subutilizado” pelo
PSB e que poderia ter contribuído mais com sua força de trabalho e interlocução
junto ao governo federal com relação à liberação de recursos e na defesa de
temas importantes para o estado.
A solenidade de posse ACONTECEU com a presença do presidente
nacional da sigla, Eurípedes Júnior, além de diversas lideranças políticas e
empresariais do estado. O evento será realizado, a partir das 14h, no Empresarial
Rio Mar Trade Center, no Pina. João Fernando avisa que, preferencialmente, seu
novo partido estará na Frente Popular do governador Paulo Câmara (PSB), mas
adverte que a política é a arte do diálogo e que o PROS estará aberto a
discutir com outros partidos nesta eleição.
O novo presidente estadual do PROS chega com a missão de
“robustecer” a sigla em Pernambuco e uma das apostas é o ingresso do
ex-prefeito João Paulo, que recentemente pediu licença do PT.
Com nove deputados federais, a sigla tem até o momento 16
pré-candidatos no estado para a Câmara Federal e vem trabalhando para lançar 50
candidatos à Assembleia Legislativa de Pernambuco. Em entrevista ao Diario, o
parlamentar fala de sua atuação no Congresso Nacional, seu empenho e o da
bancada federal para a Hemobrás permanecer no estado e também da relação de
amizade com o ex-governador Eduardo Campos, a quem o classificou como um pai.
Avaliou, ainda, o impacto da morte do líder socialista para o PSB e a política
local. Veja abaixo principais tópicos da entrevista.
Isolamento no PSB
Eu poderia ter contribuído tanto com minha força de trabalho
quanto com minha disposição de ser o interlocutor de Pernambuco com o governo
federal e com toda a nossa base de apoio político. Converso com prefeitos e muitas
lideranças. Acredito que tenho condições de melhorar o diálogo com a base,
ampliar a discussão dos interesses de Pernambuco junto ao governo federal na
liberação de recursos e na defesa de temas importantes para o estado. Sinto-me
feliz com o sucesso do PSB e espero, já que tive dificuldades de ajudá-lo como
membro do partido nesses últimos anos, que possa ajudar agora como aliado.
Subaproveitado
O PSB faz suas escolhas, é natural. Respeito. Sou grato ao
partido pelos quatro mandatos que tive. Dr. Arraes (Miguel Arraes,
ex-governador de PE)) foi uma fonte de inspiração e Eduardo foi um professor
exigente que nos cobrava resultados e sempre me deu muitas missões. E todas
elas eu cumpri com honradez e compromisso. Sinto-me subaproveitado. Eu poderia
contribuir muito mais com a Frente Popular.
João Paulo no PROS
João Paulo pode ser candidato a qualquer cargo político em
Pernambuco. Ele engrandece qualquer partido. Existem conversas com o presidente
nacional de nossa legenda e também conosco. A decisão de ir ou não para o PROS
cabe a João Paulo. Qualquer partido político tem interesse em receber um quadro
do status dele. Se tiver essa possibilidade, ele vem engrandecer o PROS, que é
uma legenda nova com quatro anos de existência. Como diz o presidente nacional,
o partido é um livro com páginas em branco para escrevermos essa história.
O impacto da morte de Eduardo
A morte de Eduardo foi duríssima para todo mundo. Era um
líder que sempre se impôs através da capacidade de diálogo e de equilibrar as
forças políticas internas no partido. Na sua ausência ficou essa lacuna. O
governador Paulo Câmara tem se esforçado, como grande gestor que é, mas não
tinha ainda o tempo necessário para poder exercer essa condução política. Temos
que buscar o que nos une e faz mais forte, que é tentar construir essa
discussão de forma mais aberta e harmônica.
Um pai na política
Eduardo para mim era como um pai na política. Tive dois pais,
um deles é Eduardo Coutinho (prefeito de Água Preta), e o outro era Eduardo
Campos. São dois Eduardos que ajudaram na minha formação política. Um pai é
insubstituível. A política é a arte do diálogo e temos que exercê-la. Espero
conseguir um diálogo com a Frente Popular a partir do momento que temos um novo
projeto para ser construído com um novo partido em Pernambuco.
Primeiro mandato
No primeiro dia da Câmara dos Deputados, apresentei um projeto
de Lei 127/2015, para estimular a utilização de energia solar no país. Ao
melhorar a matriz energética nacional, reduz a emissão de poluentes e preserva
nosso meio ambiente. Também fui sub-relator do Orçamento da Assistência Social.
Além disso, aprovamos uma PEC que atingia direto cerca de 700 mil empregos para
o país só na cadeia produtiva da vaquejada. Também tive a oportunidade de
relatar o RenovaBio, uma nova política nacional de biocombustíveis, que
estimula a utilização de tecnologias para reduzir a emissão de poluentes no
meio ambiente. Aprovamos uma emenda provisória do Fies permitindo que o
trabalhador possa usar o FGTS para pagar os seus estudos.
Hemobras
Criamos a Frente Parlamentar em Defesa da Hemobras.
Pernambuco todo se uniu, tanto as forças do governo do estado quanto as da
oposição. Foi um passo importante e certamente utilizamos nossas vozes sempre
que necessário na defesa dos grandes de Pernambuco. O deputado Jarbas
Vasconcelos (MDB) foi a primeira liderança política de Pernambuco que pediu que
eu agendasse uma conversa com membros da empresa Shaire e da própria Hemobras
para discutir o assunto. A partir daí marcamos uma reunião de toda a bancada e
todos se uniram em defesa do tema.
Liberação de emendas
Como deputado federal, nada mais natural buscar investimentos
para o estado por meio de nossas emendas parlamentares e de recursos
extraorçamentários para o governo do estado. Infelizmente a lógica de rodar as
emendas do governo estadual é uma lógica mais complexa do que uma execução direta
com órgãos do governo federal como Codevasf (Companhia de Desenvolvimento do
Vale do São Francisco) e Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra a Seca).
O PROS e as alianças
O PROS vinha dialogando com muitas forças políticas antes de
nosso ingresso na legenda, dentre elas com a Rede de Sustentabilidade, do
ex-prefeito de Petrolina Júlio Lóssio. O PROS é um partido independente que
pretende estar na aliança que vai reeleger o governador Paulo Câmara. No
entanto, como partido político, temos que estar abertos a conversar com todas
as força políticas do estado.
Senado
Em princípio, temos um candidato ao Senado que é Antônio
Souza. Não se tem grandes definições do quadro político de Pernambuco e a única
definição até o momento é a candidatura de Paulo Câmara ao governo. Como o jogo
eleitoral está muito aberto e indefinido, temos que buscar fortalecer nossos
quadros do PROS.
Novos oportunidades
Estive por 23 anos no PSB. Não foram as divergências, mas as
oportunidades que surgiram em minha vida depois de muito tempo no partido que
fui para o PROS. Nesse sentido, fomos convidados e valorizados por um partido
novo, que está sendo fundado. Entrei no PSB simplesmente como filiado entre
1995/1996. Em 2002, não houve nenhuma preparação de candidatura e na véspera da
convenção do partido recebi uma convocação de Eduardo Campos para ser candidato
a deputado estadual e fazer dobradinha com o ex-governador Miguel Arraes na
Mata Sul. Aquilo foi um desafio. Eu estava com 22 anos e a 90 dias da eleição.
Mas adiante tive novamente o desafio de renovar o mandato de deputado estadual.
Muitos diziam que talvez eu fosse um deputado de único mandato. Consegui a
minha reeleição e Eduardo o tão sonhado mandato de governador que o projetaria
para se tornar um grande gestor público e um político de rara habilidade
política.
Por: Cláudia Eloi - Diario de Pernambuco
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