‘Juntas’ (PSOL) foi o nome que apareceu na urna e conquistou
os votos de 39.175 pernambucanos. A titular do mandato é a ambulante Jo
Cavalcanti, já que a candidatura foi registrada no nome dela na Justiça
Eleitoral. O Juntas conta com a participação de mais quatro ‘eleitas’: a
jornalista Carol Vergolino, a estudante de Letras Joelma Carla, a professora da
rede estadual Kátia Cunha e a advogada Robeyoncé Lima, a primeira mulher trans
que vai participar de um mandato na Alepe.
As histórias de vida delas são completamente diferentes,
incluindo quem já morou em palafitas, como é o caso de Jo Cavalcanti; pessoas
de classe média e até filha de um economista reconhecido, como Carol Vergolino.
O que elas têm em comum é a militância no PSOL. Por causa disso, participaram
de várias capacitações oferecidas pela legenda e, deste modo, tomaram
conhecimento de mandatos coletivos, entre outras práticas – não tão
convencionais – que estão sendo experimentadas Brasil afora.
Mas como vai ocorrer um mandato coletivo na prática? “Não
vamos fazer nada sem a decisão coletiva”, alega Jo. É ela quem vai falar na
tribuna da Alepe e votar, já que a candidatura foi registrada no nome dela. No
entanto, as cinco vão se reunir e chegar a um consenso, que será expressado por
Jo nas votações do Plenário.
Ainda na adrenalina da vitória e sem o conhecimento exato de
como será a prática do dia a dia, Jo vai receber o salário de parlamentar, e as
quatro vão receber salários de assessoras parlamentares. Como a proposta é que
seja tudo igual entre as cinco, a diferença do salário de parlamentar para o de
assessora será colocada em um fundo para que o mandato possa bancar algumas
iniciativas “em construção”, que ainda não estão definidas. Elas não souberam
dizer quanto é o salário de deputado estadual nem o de assessor.
Atualmente, o vencimento de um deputado estadual – sem as
verbas extras – é de R$ 25,3 mil. “A nossa intenção é todos os dias estarmos na
Alepe e nos revezar no final de semana para participar dos movimentos. Vamos
trabalhar os 365 dias do ano“, afirma a jornalista Carol Vergolino.
As bandeiras defendidas por elas incluem várias das outras
parlamentares dessa legislatura, como aumentar a representatividade da mulher e
agir a favor de projetos que diminuam a violência – incluindo contra a mulher.
“Quando a gente se junta, é mais forte contra a opressão. Homens e mulheres são
iguais no direito, mas até hoje não é essa a prática”, diz Robeyoncé Lima, que
trabalha como técnica administrativa na Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE).
A estudante Joelma Carla diz que o grupo deseja “dar voz a
quem nunca teve. Construir políticas públicas que incluam o interior, porque lá
falta oportunidade na área de educação, transporte, entre outras”. Educação
também é uma bandeira prioritária para Kátia Cunha, que é professora de
educação física em Igarassu, no Grande Recife.
O Juntas também têm em comum o fato de pretender conciliar
suas trajetórias profissionais com o mandato da Alepe por acharem que a função
de deputado não é profissão.
O coletivo local se inspirou em outras experiências que já
ocorreram, como a Gabinetona, que resultou na atuação de Aurea Carolina e Cida
Falabella em Belo Horizonte nas eleições de 2016. Elas dividem um gabinete da
Câmara de Vereadores da capital mineira. A última eleição contou com o registro
de 11 candidaturas coletivas distribuídas por São Paulo, Distrito Federal, Mato
Grosso do Sul e Paraná, além da iniciativa pernambucana.
A assessoria de imprensa da Alepe informa que o acordo entre
as cinco candidatas é informal e que, formalmente, é considerada deputada
eleita Jo Cavalcanti, que registrou a candidatura no Tribunal Regional
Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE). “Um dos nossos desafios é mudar o regimento
da Alepe para que a chapa coletiva seja reconhecida”, diz Jo.
“Juntas foi uma inovação reconhecida por mais de 39 mil
pessoas que nos deram os seus votos”, alega Carol Vergolino, com a intenção de
que novas formas de mandato sejam reconhecidas pela Casa de Joaquim Nabuco.
Elas também conseguiram cerca de R$ 20 mil em doações via vaquinha virtual –
mecanismo que permite a doação de pessoa física pela internet – e receberam R$
24,6 mil do fundo que banca as eleições pelos partidos.
História
A Avenida Conde da Boa Vista, Centro do Recife, é o local de
trabalho de Jo Cavalcanti, que vive de comércio informal e é moradora do Morro
da Conceição, na Zona Norte da Capital. “Nos horários livres da Assembleia,
continuarei por lá”, diz.
Atualmente, ela mora em uma casa de ‘herdeiros’, mas não tem
o título de posse da propriedade. Ela faz parte do MTST, movimento que defende
os sem-teto. “Já morei na maré dos Coelhos por sete anos. Minha casa foi
incendiada e tive que sair de lá. Vejo muita gente morando de forma desumana. É
por isso que participo desse movimento“, conta.
Com o ensino médio completo, ela entrou para os quadros do
PSOL em 2016. Na época, nem planejava ser deputada, mas dizia que queria fazer
algo pelas pessoas, principalmente aquelas em situação parecida. “A gente está
precisando de lideranças novas, oxigenar os espaços da política. Não pretendo
fazer carreira política, mas em Pernambuco tem que acabar a política como cargo
de trabalho eterno, que passa de pai para filho“, opina. Com informações do JC.
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