Nesta segunda-feira (3), o Ministério da Educação (MEC) vai
divulgar como está a qualidade do ensino brasileiro. Trata-se do Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), calculado para o país, estados,
municípios e escolas. Cada ente federado e unidade escolar tem uma meta para
ser alcançada. O índice é divulgado a cada dois anos. A última divulgação foi
referente ao ano de 2015. Agora, serão anunciados os dados de 2017.
O Ideb é composto pela taxa de rendimento escolar (aprovação)
e as médias de desempenho nos exames aplicados pelo Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Nos anos iniciais do ensino fundamental, do 1º ao 5º ano, a
meta é cumprida desde 2005, quando o índice começou a ser calculado. Para 2015,
a meta estipulada era de índice 5,2 e a etapa alcançou 5,5. Nos anos finais do
ensino fundamental, do 6º ao 9º ano, a meta foi descumprida pela primeira vez
em 2013. Em 2015, o índice esperado de 4,7 e também não foi alcançado. A etapa
registrou 4,5.
No ensino médio, a meta não é alcançada desde 2013, e está
estagnada em 3,7 desde 2011. A indicador estabelecido para 2015 era de 4,3.
Para especialistas, os resultados de 2017 devem seguir a
mesma tendência dos anos anteriores. “Se a gente considerar os resultados das
avaliações anteriores, acho que infelizmente a gente está em um processo bem
semelhante ao que a gente tinha demonstrado em 2013 e 2015. Ao mesmo tempo que
é triste essa dificuldade que se tem nos anos finais do ensino fundamental e
médio, isso é um pouco reflexo de não termos políticas estruturantes nessas
etapas”, diz o diretor do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate
Educacional (Iede), Ernesto Martins Faria.
Português e matemática
Na última semana, o MEC divulgou os resultados do Sistema
Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), um dos componentes do Ideb.
Tratam-se dos resultados de avaliações de língua portuguesa e matemática
aplicadas a estudantes tanto do ensino fundamental quanto do ensino médio. A
tendência dos resultados é uma prévia também do que deve ser o Ideb.
O Saeb de 2017 mostrou que ao final do ensino médio, quando
deixam a escola, sete a cada dez estudantes não aprendem nem mesmo o
considerado básico em português. A mesma porcentagem se repete em matemática. O
ensino médio concentra os piores resultados. A etapa mostra estagnação desde
2009. As avaliações revelaram, no entanto, alguns avanços no início do ensino
fundamental.
Diante dos resultados já observados, o MEC defendeu a
aplicação do chamado novo ensino médio, aprovado no início de 2017, que
estabelece uma formação mais flexível para os estudantes que poderão escolher
itinerários formativos com ênfases em matemática, linguagens, ciências da
natureza, ciências humanas e ensino técnico. “O ensino médio está absolutamente
falido, está no fundo do poço”, afirmou o ministro da Educação, Rossieli
Soares, na divulgação do Saeb.
Na época que foi enviada ao Congresso Nacional, a reforma do
ensino médio foi criticada por ter sido instituída por meio de medida
provisória e foi um dos motivos de uma série de ocupações de escolas e
universidades em 2016.
“Se no modelo [atual de ensino médio], que não é tão
flexível, não se consegue garantir uma base de português e matemática, como se
consegue garantir isso em um modelo flexível? Acho que tem um desafio”, diz
Faria. “O cenário do Brasil é esse e vai ser por vários anos, com alunos
entrando no ensino médio com defasagem alta. Acho que o ensino médio tem que
estar preparado para garantir também essa base mínima [para quem chegar
defasado]”.
Repetências
Outro componente do Ideb é o fluxo escolar, ou seja, quantos
alunos são aprovados de um ano para o outro. De acordo com os dados de 2015, no
total, no Brasil, tanto no ensino fundamental, como no médio, mais de 80% dos
estudantes foram aprovados na série que cursavam. A reprovação, no entanto,
ainda é um desafio.
De acordo com a presidente do Inep, Maria Inês Fini, fazer
com que os alunos repitam de ano não agrega aprendizagem.
“A reação é dramática. Esse aluno que fica retido, se não for
socorrido com proposta de recuperação forte, vai arrastar a aprendizagem. Não
estamos dizendo que precisa passar de ano os alunos que não sabem, estamos
dizendo que os estudantes podem e devem ter direito de aprender na idade
certa”, diz. A presidente defende que as escolas ofereçam reforço escolar e
busquem novos métodos para que os estudantes que tiveram alguma dificuldade
possam aprender. “Não adianta ver a mesma proposta [de ensino] a qual ele já
não reagiu bem”.
“Quando olhamos os estados com melhores resultados vemos que
eles têm duas características muito comuns: boas políticas de reforço, não
deixam os alunos ficarem muito para trás, corrigem as diferenças de
aprendizagem no ano corrente; e a ampliação das escolas em tempo integral”,
complementa a presidente-executiva do movimento Todos Pela Educação, Priscila
Cruz.
Para que servem esses indicadores?
Para Priscila, esses resultados são importantes para que as
redes de ensino e as escolas possam corrigir as políticas que vêm empregando. É
possível, com os dados coletados pelo Inep constatar, por exemplo, que os
estudantes estão com dificuldade, em matemática e, a partir daí, oferecer uma
formação continuada para os professores se aprimorarem.
Isso exige, no entanto, uma “inteligência de dados nas
secretarias de educação, para abrir os dados, entender, olhar os esforços, os
acertos e erros por escola. Isso seria o ideal”, diz. Segundo ela, para aqueles
entes e escolas que não possuem estrutura para tal, “o Inep poderia ajudar
muito como órgão de inteligência, ajudar na interpretação desses dados, fazer
uma devolutiva pedagógica”.
AGÊNCIA BRASIL
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