Embora tenha mantido a tendência de outros levantamentos para
a corrida presidencial, com o ex-deputado Jair Bolsonaro (PSL) liderando a
disputa nas simulações sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um
patamar elevado do "não voto" e um segundo pelotão embolado entre
Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB), a pesquisa
XP/Ipespe da última sexta-feira trouxe indicações interessantes sobre
tendências na eleição mais incerta desde 1989.
Segundo o levantamento, feito entre 2 e 4 de julho, 35% dos
eleitores dizem que a televisão será o meio com maior influência sobre suas
escolhas de voto. A internet e as redes sociais, por outro lado, foram
apontados como principais influenciadores na escolha dos candidatos por 20% dos
entrevistados, contra 10% representados por familiares e amigos. Apenas 2%
mencionaram os jornais, mesmo percentual indicado para o rádio.
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O estudo também mostrou que, quatro anos atrás, 49% dos
entrevistados decidiram seus votos depois do início do período de campanha,
sendo 18% após o último debate realizado entre os candidatos e 13% no próprio
dia da eleição. Outros 41% disseram ter decidido em quem votar antes do início
da campanha eleitoral. Caso este comportamento se mantenha, este será outro
fator a ampliar a influência da TV no processo de escolha dos candidatos.
A partir dos dados expostos, vamos a algumas considerações
possíveis:
1. Campo para Alckmin
O tucano tem muitos problemas a enfrentar. Estagnado nas
pesquisas de intenção de voto e empatado tecnicamente em rejeição com o
ex-presidente Lula, Alckmin tem dificuldades em convencer potenciais aliados de
sua viabilidade eleitoral. O levantamento divulgado nesta sexta-feira, porém,
pode dar força à argumentação do ex-governador no sentido de que a maior parte
dos eleitores ainda levará tempo para definir voto e que o atual momento é
marcado pelo desinteresse no pleito.
Segundo o levantamento XP/Ipespe, 49% dos eleitores
responderam, na última eleição presidencial (2014), ter decidido em quem votar
depois do início da campanha de televisão, sendo que 13% escolheram apenas no
dia da eleição e 18% após o último debate entre os candidatos. Se este
comportamento se repetir no pleito atual, o tucano tem um ponto. Pelo quadro de
indefinição -- inclusive de candidaturas --, este é um quadro provável.
Outro fator indicado pela pesquisa, ainda do lado de Alckmin,
é um elevado percentual de eleitores que indicam a experiência do candidato
como critério mais importante na decisão do voto. Este grupo representa 43% dos
atuais apoiadores do ex-governador, contra uma média de 26% de participação
sobre o eleitorado geral. No caso do tucano, as propostas apresentadas não têm
a mesma importância para seu atual eleitorado, com 25% indicando este quesito,
que, na avaliação sem estratificação entre os candidatos, representa a maioria
dos entrevistados.
2. Tucano amarrado
Pela ordem, Alvaro Dias, Geraldo Alckmin e Jair Bolsonaro têm
entre seus eleitores os maiores grupos que declararam ter tomado cedo a decisão
sobre em quem votar em 2014: 49%, 48% e 48% respectivamente disseram ter se
decidido antes mesmo da campanha começar. Este comportamento pode se repetir no
pleito deste ano, embora o quadro de indefinição e multiplicidade de
candidaturas jogue contra. No atual momento, porém, os números destacados
indicam possibilidade de maior convicção de voto entre os eleitores desses três
candidatos. Para Alckmin, embora faça parte da lista, a notícia é ruim, já que
precisaria conquistar votos dos dois adversários para crescer na disputa.
A cristalização de parte do apoio a Bolsonaro é indicada
também nas pesquisas espontâneas, situação que o parlamentar lidera com 14% das
intenções de voto, tecnicamente empatado com o ex-presidente Lula. Do outro
lado, Álvaro Dias conquista forte apoio na região Sul e não há incentivos para
a desistência da candidatura no momento. A pesquisa também mostrou que, mesmo
com eventual saída do senador da disputa, Alckmin não consegue hegemonizar a
herança dos votos. Caso o pré-candidato do Podemos não participe da disputa,
38% de seus apoiadores migram para o grupo de brancos, nulos e indecisos, ao
passo que 21% vão para o lado do tucano, 19% para Bolsonaro e 13% para Marina.
3. Bolsonaro: duas realidades
O cruzamento dos dados com as intenções de voto dos eleitores
mostra que o deputado é o candidato mais exposto ao grupo que vê a internet e
as redes sociais como os principais fatores a influenciar suas decisões de
voto. Bolsonaro é conhecido pelo maior engajamento de seus eleitores nas redes.
30% de quem hoje declara voto no pré-candidato do PSL se diz mais influenciado
por essas novas plataformas.
As expectativas de pouco tempo na televisão -- salvo se
houver construções de alianças em torno de sua candidatura -- incentivam uma
estratégia digital, mas também distanciam o parlamentar de determinadas faixas
de eleitores. Apesar da influência das redes sobre o voto de parcela
significativa, 33% dos que hoje apoiam Bolsonaro admitem que a televisão será o
principal fator a pesar sobre suas escolhas.
Com pouca exposição nos meios tradicionais, o militar na
reserva pode ser alvo de ataques de adversários e ter pouco espaço para defesa.
Isso poderia favorecer uma erosão de votos em certos grupos. Se não fechar com
o PR e for mesmo para a campanha com menos de 10 segundos de exposição no
horário eleitoral, tais riscos associados a um trabalho de desconstrução de sua
imagem na propaganda eleitoral aumentam.
4. Marina: voto indeciso 'de luxo'
A pré-candidata pela Rede tem bom desempenho nas pesquisas de
intenção de voto, muito em função do recall das últimas eleições. Por outro
lado, não é novidade que enfrentará grandes dificuldades em função da baixa
estrutura partidária, os escassos recursos financeiros e o pouco tempo de
televisão no horário eleitoral gratuito. A pesquisa XP/Ipespe mostra dados
ainda mais alarmantes à campanha da ex-senadora: a maior parte de seus
eleitores disse ter decidido voto, no último pleito, pouco antes da ida às
urnas. Entre os principais candidatos, Marina é a que tem menor percentual de
eleitores que decidiram voto antes do início do período de campanha em 2014
(apenas 30%).
A ex-senadora também precisa se preocupar com o fato de
expressiva fatia de eleitores que a apoiam neste momento dizer que a televisão
será o meio que mais influenciará no processo de escolha de candidato (43%).
Com pouco tempo em rede nacional e perspectiva negativa para a construção de
alianças, não será tarefa fácil manter o apoio deste grupo -- assim como
avançar sobre novas faixas. A combinação entre a tendência de os eleitores
decidirem voto mais tarde e majoritariamente influenciados pela TV é problema
relevante para a campanha de Marina Silva.
Em menor medida, o ex-ministro Ciro Gomes enfrentará
dificuldade similar. Segundo a pesquisa, 35% dos eleitores que hoje declaram
voto no pedetista dizem, na última eleição, ter escolhido candidato a três dias
do primeiro turno, sendo que 22% tomaram a decisão justamente no dia de votar.
Ciro também é o candidato que concentra o maior percentual de eleitores que
admitem maior influência da TV sobre a decisão de voto. Este grupo corresponde
a 44% de seus apoiadores.
5. 'Centrão' manda
Como se a disputa pelo apoio de DEM, PRB, PP e Solidariedade
não estivesse intensa o bastante, a pesquisa XP/Ipespe dá novas indicações
sobre a força destes se negociaram de forma conjunta. Embora as duas primeiras
siglas tenham pré-candidatos para a disputa -- o atual presidente da Câmara,
Rodrigo Maia, e o empresário Flávio Rocha, respectivamente --, os dois partidos
tendem a desistir de trilhar voo solo na corrida presidencial para apoiar um
nome que considerem competitivo. No momento, a briga está entre Geraldo Alckmin
e Ciro Gomes. Não está claro se essas siglas caminharão juntas até o fim, mas
caso isso aconteça, o candidato apoiado terá ao menos 98 segundos de propaganda
eleitoral gratuita. Em um pleito tão equilibrado e no qual a maioria dos
eleitores aponta a televisão como meio que mais influenciará nas decisões de
voto, este apoio pode ser ainda mais importante. Quem levar, tem boa carta nas
mãos.
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