No fim do Carnaval, o guarda
municipal e também mototaxista Francisco de Assis Ferreira, 48 anos, foi
surpreendido com uma notícia que o fez suspirar e correr de Serra Talhada em
plena quarta-feira de cinzas.
Ele se viu obrigado a arrumar as
malas junto com a esposa Cícera de Lima, 41 anos, – que é servidora da
prefeitura e costureira -, e esticar os festejos de momo em Campina Grande
(PB), para onde levou às pressas a sua filha Ialy Beatriz de Lima Ferreira, de
17 anos.
A adolescente foi garantir a
matrícula com bolsa integral na Faculdade de Ciências Médicas de Campina Grande
(PB), após divulgação da lista de vestibulandos do ProUni (Programa
Universidade para Todos) esta semana.
O caso não chamaria tanta atenção
se Francisco de Assis e Cicera Lima já não tivessem comemorado aprovação, em
2016, da filha mais velha do casal, também em Medicina, pela UPE, Iara Geisa de
Lima Ferreira, hoje com 18 anos.
“A família recebeu a notícia com
grande alegria. É uma satisfação enorme e ainda maior por conta que são duas
irmãs. Há alguns anos atrás esse feito parecia impossível, porque as meninas
são de família humilde e hoje a juventude tem oportunidade, apesar de que
muitos ainda não valorizam o esforço que fazem os pais. O exemplo delas é um
incentivo aos jovens”, acredita a tia das meninas, Isabel Francisca de Lima, 48
anos, em conversa com o Farol de Notícias.
Ialy Beatriz de Lima Ferreira
ficou em terceiro lugar na lista dos prestigiados com concessão de bolsa
integral e a partir de agora vai morar em terras paraibanas com a missão de
estudar para salvar vidas.
SUPERAÇÃO
Sem deixar Serra Talhada, as
irmãs são a prova de que ‘vida de cursinho’ em Recife já não é única garantia
de sucesso
Sem deixar Serra Talhada, sonhar
com o curso de Medicina é se superar. As chances de Ialy, bem como de sua irmã
Geisa, as deixariam com pouquíssimas perspectivas, se compararmos suas
trajetórias com as de serra-talhadenses que têm hoje a sorte de estudar em
cursinhos caros do Recife.
Por isso mesmo, elas foram
incentivadas pelos pais e professores a valorizarem as oportunidades que
obtiveram aqui mesmo. No caso de Ialy, ela deu seus primeiros passos escolares
na Escola Tempo de Avançar, que fica no bairro Alto da Conceição. Depois,
concluiu os estudos no Colégio de Aplicação em 2016.
Para reforçar a carga de
dedicação, pediu aos pais que a matriculassem em um cursinho pré-vestibular no
bairro São Cristóvão e, assim, com os estudos direcionados para o vestibular de
Medicina, as chances floresceram no solo seco do Sertão.
“Não me vejo fazendo outra coisa
senão medicina”, disse Ialy Beatriz, em contato com o Farol, provando – ao lado
da irmã Geisa – que é possível sim, para os vestibulandos de hoje, percorrer um
novo caminho diferente da diáspora Serra Talhada-Recife, a qual muitos poucos
pais têm condições de bancar.
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