segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Mototaxista e costureira de Serra Talhada têm filhas aprovadas em Medicina


No fim do Carnaval, o guarda municipal e também mototaxista Francisco de Assis Ferreira, 48 anos, foi surpreendido com uma notícia que o fez suspirar e correr de Serra Talhada em plena quarta-feira de cinzas.

Ele se viu obrigado a arrumar as malas junto com a esposa Cícera de Lima, 41 anos, – que é servidora da prefeitura e costureira -, e esticar os festejos de momo em Campina Grande (PB), para onde levou às pressas a sua filha Ialy Beatriz de Lima Ferreira, de 17 anos.

A adolescente foi garantir a matrícula com bolsa integral na Faculdade de Ciências Médicas de Campina Grande (PB), após divulgação da lista de vestibulandos do ProUni (Programa Universidade para Todos) esta semana.

O caso não chamaria tanta atenção se Francisco de Assis e Cicera Lima já não tivessem comemorado aprovação, em 2016, da filha mais velha do casal, também em Medicina, pela UPE, Iara Geisa de Lima Ferreira, hoje com 18 anos.

“A família recebeu a notícia com grande alegria. É uma satisfação enorme e ainda maior por conta que são duas irmãs. Há alguns anos atrás esse feito parecia impossível, porque as meninas são de família humilde e hoje a juventude tem oportunidade, apesar de que muitos ainda não valorizam o esforço que fazem os pais. O exemplo delas é um incentivo aos jovens”, acredita a tia das meninas, Isabel Francisca de Lima, 48 anos, em conversa com o Farol de Notícias.

Ialy Beatriz de Lima Ferreira ficou em terceiro lugar na lista dos prestigiados com concessão de bolsa integral e a partir de agora vai morar em terras paraibanas com a missão de estudar para salvar vidas.

SUPERAÇÃO


Sem deixar Serra Talhada, as irmãs são a prova de que ‘vida de cursinho’ em Recife já não é única garantia de sucesso

Sem deixar Serra Talhada, sonhar com o curso de Medicina é se superar. As chances de Ialy, bem como de sua irmã Geisa, as deixariam com pouquíssimas perspectivas, se compararmos suas trajetórias com as de serra-talhadenses que têm hoje a sorte de estudar em cursinhos caros do Recife.

Por isso mesmo, elas foram incentivadas pelos pais e professores a valorizarem as oportunidades que obtiveram aqui mesmo. No caso de Ialy, ela deu seus primeiros passos escolares na Escola Tempo de Avançar, que fica no bairro Alto da Conceição. Depois, concluiu os estudos no Colégio de Aplicação em 2016.

Para reforçar a carga de dedicação, pediu aos pais que a matriculassem em um cursinho pré-vestibular no bairro São Cristóvão e, assim, com os estudos direcionados para o vestibular de Medicina, as chances floresceram no solo seco do Sertão.

“Não me vejo fazendo outra coisa senão medicina”, disse Ialy Beatriz, em contato com o Farol, provando – ao lado da irmã Geisa – que é possível sim, para os vestibulandos de hoje, percorrer um novo caminho diferente da diáspora Serra Talhada-Recife, a qual muitos poucos pais têm condições de bancar.

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