A vereadora Marília Arraes (PT) e o engenheiro João Campos
(PSB), neta e bisneto de Miguel Arraes, respectivamente, travam um duelo velado
nas urnas não apenas por uma vaga na Câmara Federal. A disputa, já de olho na
Prefeitura de Recife em 2020, é pelo espólio eleitoral da família Arraes e,
consequentemente, saber quem dos dois receberá mais votos.
Novato em eleições, João, filho de Eduardo Campos, conta com
o apoio do governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), e do prefeito de
Recife, Geraldo Júlio (PSB). O empenho dos dois principais líderes do PSB tem
provocado descontentamento de outros candidatos do partido.
Agora, com a entrada de Marília na disputa direta com Campos,
aumentará o esforço empreendido para evitar uma derrota política. “Atendo ao
chamado da Frente Popular para cumprir a honrosa missão de ser candidato a
deputado federal e, junto com o povo de Pernambuco, dar continuidade ao legado
de doutor Arraes e de Eduardo Campos“, afirma João.
Marília personifica, em Pernambuco, a oposição ao governador
Paulo Câmara. Após ter o nome retirado da disputa ao governo pelo comando do
próprio partido, resolveu se lançar a deputada federal. Na disputa proporcional,
o PT decidiu não participar da coligação de apoio ao pessebista. É uma
estratégia para que a possível expressiva votação de Marília não ajude a eleger
deputados do PSB.
Em vídeo publicado nas suas redes sociais, a vereadora foi
direta. “Tomamos a decisão de lançar a nossa candidatura a deputada federal
numa chapa exclusiva do PT, sem coligação. Votando em mim ou qualquer outro
candidato da nossa chapa, seu voto não vai eleger deputados de outros
partidos“, declarou.
Na manhã desta quarta-feira (8), a petista falou a
jornalistas que João Campos é um candidato comum. “Ele é um candidato como
qualquer outro. Temos muitos candidatos. Não é por ser da família ou por não
ser que seria diferente“. Marília ressaltou que não tem a vaidade de ser a mais
votada. “Agora, é juntar os cacos de todo esse processo que foi bastante
traumático. Não tenho vaidade. Quero que o PT eleja muitos deputados. Não tenho
grande estrutura de máquina, de dinheiro, de tudo isso“, alfinetou.
Em 2014, Marília Arraes rompeu com o primo Eduardo Campos
justamente por ele não lançá-la como deputada federal. No mesmo ano, com Ana
Arraes fora da disputa por ter se tornado pelas mãos do filho Eduardo Campos
ministra do Tribunal de Contas da União (TCU), os 387 mil votos dados a ela na eleição
de 2010, que a tornou a deputada mais votada em Pernambuco e a quinta no
Brasil, foram estrategicamente repartidos.
Os principais beneficiados foram os mais próximos de Eduardo:
os deputados federais Tadeu Alencar, Danilo Cabral e Felipe Carreras, todos do
PSB e que concorrem à reeleição neste ano.
Em 2006, Eduardo Campos, que venceu a disputa do Governo de
Pernambuco, lançou Ana Arraes para ocupar uma vaga na Câmara. Ela obteve 178
mil votos e em 2010 mais de 387 mil. Em 1990, o ex-governador de Pernambuco
Miguel Arraes, pai de Ana e avô de Eduardo, foi o primeiro das urnas com 339
mil votos.
João Valadares – FolhaPress
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