João Campos (PRB-GO), deputado reeleito para o quinto
mandato, entrou na corrida para presidir a Câmara no primeiro ano do governo
Jair Bolsonaro (PSL-RJ).
E o que ele tem que outros candidatos, como o atual
presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o calouro Kim Kataguiri (DEM-SP),
não têm?
Campos, 55, é pastor evangélico e delegado civil aposentado.
Já teve papéis de liderança em dois terços da chamada bancada BBB, de Boi
(ruralista), Bala (segurança pública) e Bíblia (evangélica), uma tríplice aliança
que saiu fortalecida com o triunfo bolsonarista.
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Acredita, portanto, que o espírito dos tempos o favorecerá.
Nos bastidores, o PSL de Bolsonaro racha: uma ala respalda a recondução de
Maia, outra se inclina a Campos.
Em entrevista na segunda (3) à GloboNews, o senador eleito e
primogênito de Bolsonaro, Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), defendeu um “presidente
inédito” na Casa e apontou que a bancada do Rio tem reticências com o atual
titular.
Para Campos, nem é uma questão de declarar “alinhamento puro
e simples” ao presidente eleito. “Se você for pegar o que defendo e o que
Bolsonaro defende, são coisas que a maioria da sociedade já decidiu, é uma
pauta muito convergente”, diz à reportagem.
E sua agenda prioritária, como a de tantos colegas que zelam
pelo conservadorismo no Congresso, vai da “família natural” (casais de homem e
mulher) ao endurecimento de políticas de segurança pública.
Campos conta que anos atrás leu pela primeira vez a expressão
“bancada BBB” na Folha de S.Paulo e achou “uma ideia maravilhosa”. “No mesmo
dia, me reuni com gente da frente parlamentar da agricultura e da segurança:
‘Olha, temos que dialogar mais. É uma chance de passarmos a ser mais
expressivos do que antes”, diz.
Ele chegou a ser, simultaneamente, presidente do bloco “da
Bíblia” (ficou até 2017) e vice-presidente do “da Bala” (até hoje). Boa parte
dos projetos e resoluções que apresentou em seus 16 anos na Câmara tem a ver
com essas áreas.
Convocou sessões solenes na Casa pelos dias da Bíblia, da
Reforma Protestante, da Proclamação do Evangelho e da Valorização da Família, e
isso só em 2018. Em junho, sugeriu ao governo Michel Temer que o Brasil
transferisse sua embaixada em Israel para Jerusalém, uma promessa eleitoral de
Bolsonaro.
Em 2012, propôs seu projeto de lei que mais deu o que falar,
apelidado de “cura gay”. Então à frente da bancada evangélica, queria derrubar
a norma do Conselho Federal de Psicologia que proíbe profissionais de tratar a
homossexualidade como um transtorno.
Acabou desistindo do projeto porque, diz agora, a cúpula do
PSDB (seu partido à época) soltou uma nota contrária a ele “sem nenhum
diálogo”.
Para ele, o texto “garantia a cidadania plena da pessoa
homossexual, que poderia decidir por ela, que tem 18 anos, se quer procurar
psicólogo”.
O certame volta a 1990, quando militantes LGBTI passaram a
denunciar os autointitulados psicólogos cristãos, que prometiam curar
homossexuais. Sua orientação sexual, diziam, não era doença para ser tratada
-em consonância com a Organização Mundial da Saúde, que retirou a
homossexualidade de seu rol de doenças mentais naquele ano.
O texto de Campos encontrou resistência no próprio partido e
em pleno governo petista (de Dilma Rousseff). Agora que ventos conservadores
sopram no país, poderia reapresentá-lo, claro, mas afirma que descarta a ideia.
Diz que sua relação com a comunidade LGBTI “foi sempre de
muito respeito” e que “quem assume posições com certa acidez são os
militantes”.
O ex-tucano migrou para o PRB, costela política da Igreja
Universal do Reino de Deus, em 2016. Ele próprio é pastor em outra igreja com
cacife político, a Assembleia de Deus -Ministério Madureira- para onde
políticos costumam correr na temporada eleitoral, de João Doria a Eduardo
Cunha.
Campos acha “muito positivo” que evangélicos tenham acordado
para a vida política. “Há duas décadas, quase não participavam da questão
partidária, compreendiam que a política era algo do diabo.”
Se o deputado reeleito Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho de
Jair, defende que o modus operandi do próximo presidente da Câmara seja
“tratorar” a oposição de esquerda, o candidato opta por um discurso mais
pacificador.
Eduardo só usou uma “força de expressão”, disse, reproduzindo
expediente de aliados ao se referir a falas polêmicas da família Bolsonaro.
“Tenho o sentimento que o Parlamento só funciona se a gente
respeitar as regras. Pode até atropelar uma vez, mas na segunda, terceira, o
plenário não vai aceitar”, afirma.
Descarta o disse-me-disse em Brasília sobre o PRB fechar um
acordo com Maia e rifá-lo. “Possibilidade zero.”
Se eleito para suceder o colega do DEM, diz que sua
prioridade será ajudar o novo governo a aprovar as reformas tributária e da
Previdência.
Para amealhar votos, promete conversar com os 512 colegas da
próxima legislatura, sejam esquerda, sejam direita.
Um deles terá sua atenção especial: o xará João Campos
(PSB-PE), filho do ex-governador Eduardo Campos, morto em acidente de avião
quando disputava a Presidência, em 2014. No último dia 14, aliás, achou
prudente já requerer à Câmara “preferência na escolha do nome parlamentar em
virtude da eleição de outro parlamentar homônimo”.
Nada pessoal, claro. “Ao contrário, quero até o voto dele.”
Imagina o papelão que seria uma manchete “João Campos vota contra João Campos”?
Com informações da Folhapress
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