A redação do Diario de Pernambuco vai parar. Sem receber
salários desde dezembro – nem as parcelas do 13º salário foram pagas – os
profissionais decretaram greve na assembleia realizada nesta segunda-feira
(21). Para cumprir prazos legais, a mobilização começa em 72 horas a partir da
comunicação oficial do Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco (Sinjope) à
empresa.
Além do pagamento dos salários, do 13° e das férias de
dezembro, que também estão atrasadas, os jornalistas do Diario de Pernambuco
cobram a regularização dos depósitos do INSS e o FGTS de todos os funcionários.
Faz pelo menos três anos que esse recolhimento não está sendo feito
corretamente. “A situação é insustentável. As pessoas estão vindo a pé para
trabalhar porque não têm mais dinheiro para pagar passagens. Estão pedindo
empréstimos em bancos e acumulando dívidas. Muitos não conseguiram matricular filhos
na escola”, conta a diretora do Sinjope Cláudia Eloi.
Regularizar a folha de pagamento dos funcionários custaria
cerca de R$ 1 milhão à empresa, nas contas do Sinjope. No fim do ano passado, o
jornal mais antigo em circulação da América Latina tirou a sua versão impressa
das ruas a partir do dia 22 de dezembro para economizar R$ 1,5 milhão com a
compra de papel. Esse dinheiro serviria para sanar os débitos com os
profissionais da casa, mas o periódico voltou a circular no último dia 8 sem
que qualquer esforço de pagamento aos trabalhadores fosse esboçado por parte da
administração.
A suspensão da versão impressa não sanou os problemas
financeiros, nem aliviou a carga de trabalho dos profissionais da redação. Por
causa do enxugamento do quadro, que passava de 150 pessoas em 2015 e atualmente
opera com a metade desse volume, a qualidade do ambiente de trabalho também
ficou comprometida. No começo do ano passado, 30 jornalistas foram dispensados
também sob a justificativa do equilíbrio financeiro. Como essa equalização das
contas nunca ocorreu, os jornalistas que ficaram ainda convivem com o medo
diário de novas demissões.
No ano passado, a Marco Zero Conteúdo acompanhou uma
audiência entre os jornalistas e o presidente do Diario de Pernambuco,
Alexandre Rands, no Ministério Público do Trabalho (MPT). Alexandre é irmão de
Maurício Rands, que foi candidato ao governo do estado no ano passado e se
afastou do jornal durante a campanha. De forma bastante fria, o empresário
chegou a dizer, na época, que os funcionários tinham que escolher entre as
demissões ou um acordo coletivo para a redução temporária dos salários sem
garantia de manutenção dos cargos. “Ou a gente quebra, ou a gente corta!”,
disse.
Após as eleições, Maurício Rands voltou para a redação com a missão
de equilibrar as contas, que no ano de 2017 fecharam com prejuízo de R$ 1
milhão. Até agora, contudo, as intervenções aparentemente não surtiram
resultado. Um exemplo é a dívida que o governo do estado tem com o jornal, que
é avaliada em R$ 900 mil. Em audiência recente entre a administração pública e
os gestores da empresa, o governo informou o pagamento de R$ 220 mil da dívida
total. O valor inicialmente foi contestado pela administração do Diário de
Pernambuco, que posteriormente voltou atrás e confirmou o recebimento. Uma nova
audiência entre as partes deve acontecer em breve.
A conta dos passaralhos
Nas conversas das redações, o passaralho é a palavra usada
para definir as demissões em massa de jornalistas. É uma realidade infelizmente
cada vez mais recorrente para a categoria no Brasil.
Em Pernambuco, a crise dos negócios jornalísticos e o
panorama econômico e político do país aceleraram o ritmo das demissões no ano
passado. Além dos cortes no Diario de Pernambuco, o Sistema Jornal do Commercio
demitiu 25 pessoas e cortou as horas extras fixas por extensão de jornada, que
representam aproximadamente 40% da remuneração dos profissionais. As medidas
foram anunciadas entre o Natal e o Ano Novo.
A quem não aceitou ficar apenas com o salário-base foi
oferecida a opção da demissão com o pagamento dos direitos trabalhistas. Ou
seja, as demissões prosseguiram e, segundo o Sinjope, a lista final que vai
mostrar o real tamanho do enxugamento do Sistema Jornal do Commercio só deve se
concretizar no próximo mês. Em todo o Brasil, as redações demitiram 2.327
jornalistas desde 2012 de acordo com levantamento do VoltLab. Os dados estão
atualizados até agosto do ano passado, ou seja, não contabilizam as demissões
no SJCC, por exemplo. Já as empresas de mídia dispensaram quase oito mil
profissionais no país.
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