O trigo mais caro e o dólar em alta pressionam para cima o
preço de alimentos que estão diariamente na mesa do brasileiro. Pães, bolos,
massas e biscoitos ficarão mais caros.
Nas padarias paulistas, o aumento ainda não chegou ao
pãozinho e outros produtos, explica o presidente do Sindicato das Indústrias de
Panificação e Confeitaria de São Paulo, Antero José Pereira.
"Os moinhos já falam em aumentar, mas esse repasse ainda
não chegou. Seria algo em torno de 10% no preço da farinha de trigo. Hoje, 25%
do custo do custo do pão é a farinha, ou seja, o aumento seria de 2,5%",
observa.
Ele acrescenta que poucos comerciantes têm margem para
segurar a alta da matéria-prima e afirma que apenas 1,80% da inflação do ano
passado (2,95%) foi repassado para o preço do pão em São Paulo.
"Ninguém gosta de fazer repasse dos preços, mas a
padaria não está com muita gordura", diz.
Por outro lado, nos produtos feitos pela indústria, esse
aumento já chegou, segundo o presidente-executivo da Abimapi (Associação
Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos
Industrializados), Claudio Zanão.
"O pão industrializado e o macarrão já subiram, em média
20% nos últimos três meses e o biscoito, em torno de 12%. Mas esses aumentos
estão sendo diluídos, até agora metade disso foi repassado aos supermercados,
que também acabam segurando o repasse por algum tempo para não perder
vendas", afirma. Ele observa que ainda há perspectiva de mais alta no
futuro.
Entressafra e dólar
O motivo inicial é a entressafra do trigo e a baixa
disponibilidade na Argentina, principal exportador da matéria-prima para o
Brasil — cerca de 80%. No país vizinho, o preço do produto atingiu o patamar de
US$ 260/tonelada no último dia 18, alta de 44% em relação a janeiro.
"O trigo é dolarizado, ou seja, depende do mercado
externo e [o preço no Brasil] tem influência do câmbio", explica o
presidente-executivo da Abimapi.
A colheita do trigo no Brasil ocorre entre setembro e
dezembro, sendo que o consumo se inicia em março.
"A entressafra acontece todo ano e às vezes passa
despercebida. Só que neste ano houve a indisponibilidade do trigo argentino e
para agravar isso o câmbio, acrescenta Zanão.
O dólar no ano já acumula valorização de 12,9% frente ao
real. Apenas neste mês, a moeda já subiu 6,8%. Na sexta-feira (18), fechou o
dia cotado a R$ 3,74 — a sexta alta consecutiva. Na segunda-feira (21), a moeda
americana recuou e fechou cotada a R$ 3,68.
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Com a economia difícil na Argentina, alguns produtores de
trigo estão segurando parte da safra na espera de melhores oportunidades de
venda, diante da alta de preços no mercado internacional.
O produto lá se valorizou e as indústrias brasileiras tiveram
que recorrer a outros mercados, como Estados Unidos e Canadá.
O problema é que o frete e a TEC (Tarifa Externa Comum), de
10% — não é aplicada aos países do Mercosul —, tornam ainda mais caro o trigo
importado.
A queda da produção de trigo na safra brasileira de 2017/2018
foi de 36,6%, diz o analista de produtos agropecuários da Conab (Companhia
Nacional de Abastecimento), Rodrigo de Souza.
"O consumo brasileiro da safra de agosto de um ano até
julho do ano seguinte é de aproximadamente 11 milhões de toneladas, metade
disso é produzido no Paraná e cerca de 35% no Rio Grande do Sul. Mas na última
safra, tivemos problemas climáticos e colhemos trigo em menor quantidade e de
qualidade inferior".
A expectativa para este ano, no entanto, é mais otimista, mas
só deverá começar a ser sentida a partir de setembro, quando inicia a colheita
no Paraná.
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