O Brasil possui um dos maiores números de alunos por sala de
aula no ensino médio entre mais de 60 países analisados no estudo Políticas
Eficazes para Professores: Compreensões do PISA, publicado nesta segunda-feira
pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
De acordo com o documento, as escolas públicas do Brasil têm
22 alunos por professor no primeiro ano do ensino médio. O total é o mesmo
quando se incluem as instituições privadas.
Esse número só é maior na Colômbia, que acaba de entrar para
a OCDE, com 27 alunos por turma. No México, também membro da organização, o
total de estudantes por professor varia entre 17 e 27.
Na China, país mais populoso do mundo, há apenas 12 alunos
por professor.
“Classes menores são frequentemente vistas como benéficas
porque elas permitem que o professor se focalize mais nas necessidades
individuais dos estudantes”, diz o estudo.
Segundo a OCDE, é preciso reduzir o tamanho da sala de aula
e aliviar a carga horária de ensino do professor, ampliando dessa forma o tempo
que else passa preparando aulas, em orientação pedagógica (tutoria) ou
atividades de desenvolvimento profissional. E, para isso, uma solução seria
aumentar o número de professores.
“Os sistemas de educação precisam determinar quantos
professores são necessários para oferecer uma educação adequada para seus
estudantes”, diz a OCDE.
No Brasil, problemas de salas de aula lotadas, jornadas
duplas de trabalho, com carga horária excessiva, são enfrentados por muitos
professores e provocam desgastes em relação à profissão.
O PISA, no qual se baseia o relatório divulgado nesta
segunda, é um vasto conjunto de estudos internacionais que visam medir o
desempenho de sistemas educacionais de países membros e não membros da OCDE,
como o Brasil.
O PISA é realizado com jovens na faixa de 15 anos, o que
corresponde ao primeiro ano do ensino médio.
O estudo Políticas Eficazes para Professores diz ainda que a
maioria dos países do PISA tem alocado mais professores a escolas consideradas
desfavorecidas – onde há mais alunos com condições socioeconômicas mais baixas
– para compensar as desvantagens na comparação com escolas onde estudantes têm mais
poder aquisitivo.
Mas isso nem sempre resulta em melhor qualidade do ensino,
diz a OCDE. Isso porque, geralmente, “professores nas escolas mais
desfavorecidas são menos qualificados e têm menos experiência” do que nas
instituições com condições superiores, ressalta a organização.
Na prática, diz a organização, os efeitos positivos de
aumentar o número de professores nas escolas desfavorecidas são minados se não
for levada em conta a questão da qualidade do professor.
“Os estudos têm mostrado que investimentos na quantidade de
professores são geralmente feitos em detrimento da qualidade do ensino”,
ressalta a OCDE.
“Estudos revelam que professores com qualificações mais
fracas são mais propensos a ensinar em escolas desfavorecidas, o que pode levar
a um potencial menor de oportunidades educacionais para estudantes dessas
escolas”, afirma o documento.
Especialização
O estudo, que enfatiza a importância do ensino de alta
qualidade para reduzir as desigualdades sociais, também revela que apenas 29%
dos professores de ciências no Brasil têm especialização na área.
Em países como a Finlândia, que estão entre os que
apresentaram os melhores resultados do teste do PISA na área de ciências, a
proporção de professores especializados nessa disciplina nas escolas públicas
do país é 83%.
“Alguns estudos têm mostrado que alunos que aprendem com
professores com formação específica em uma área têm melhores performances na
disciplina”, afirma a OCDE.
Como o último PISA focou na área de ciências, os dados sobre
a especialização dos professores dizem respeito à área.
“Quanto maior a diferença de qualificação dos professores de
ciências entre escolas desfavorecidas e favorecidas, maior também é a diferença
da performance em ciências entre estudantes na base e no topo do status
socioeconômico.”
No Brasil, 60% dos professores com menos qualificação
educacional tendem a trabalhar mais em pequenas cidades, afirma outro estudo da
OCDE divulgado nesta segunda-feira, Professores em Ibero-América: Compreensões
do PISA e do Talis.
“No Brasil, professores não especializados em ciências em
escolas desfavorecidas ensinam assuntos que não estavam incluídos em sua
formação ou programa de qualificação com mais frequência do que professores não
especializados em escolas favorecidas.”
O estudo específico sobre países ibero-americanos também
nota que a demanda por professores aumentou na região devido ao rápido
crescimento do número de estudantes matriculados, sobretudo na América Latina,
em razão de um maior acesso à educação.
Em resposta à essa demanda, “os requisitos para ingressar na
profissão docente foram reduzidos”, afirma o documento.
Isso fez com que a profissão começasse a ser desvalorizada,
vista como um ofício de poucas exigências e baixa qualificação, acrescenta a
organização.
No Brasil, apenas pouco mais de 10% dos professores acham
que a profissão é valorizada pela sociedade.
Entre 2003 e 2015, mais de 493 mil novos alunos no Brasil
foram somados ao total da população estudantil de 15 anos, um aumento de 21%.
A expansão das matrículas, diz a OCDE, se deve a melhoras na
capacidade para manter os alunos no sistema de ensino à medida que eles
progridem a níveis superiores.
BBC BRASIL
0 comentários:
Postar um comentário