Dados do Ministério da Saúde revelam que 1.153 municípios
brasileiros, o que corresponde a 22% do total, têm alto índice de infestação e
risco de surto para dengue, zika e chikungunya, o que indica a necessidade de
intensificar as ações de combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor das
doenças, mesmo durante o outono e o inverno. Nessas estações, a tendência seria
de cair a incidência de doenças associadas ao mosquito.
O mapeamento foi feito com base no Levantamento Rápido de
Índices de Infestação pelo Aedes aegypti (LIRAa), que compila informações
enviadas por gestores municipais. Neste caso, os dados foram coletados entre
janeiro e meados de março. O LIRAa mostra que, além dos municípios que estão em
situação mais vulnerável, 2.069 estão em alerta e 1.711 apresentam índices
satisfatórios. A lista com a situação de cada cidade está disponível no portal
do Ministério da Saúde
“O resultado do levantamento indica que é necessário dar mais
atenção às ações de combate ao mosquito. A prevenção não pode ser interrompida,
mesmo no período mais frio do ano”, alertou o secretário de Vigilância em
Saúde, Osnei Okumoto. De acordo com o secretário, as ações ddevem reverter em
maior proteção durante o verão, época de maior proliferação do Aedes aegipty.
“Assim será possível manter a redução do número de casos”, adiantou.
Entre as capitais, apenas São Paulo, João Pessoa e Aracaju
apresentam índices satisfatórios e não devem enfrentar problemas desse tipo.
De acordo com o ministério, Rio de Janeiro, Fortaleza, Porto
Velho, Palmas, Maceió, Salvador Teresina, Recife, Brasília, Vitória, São Luís,
Belém, Macapá, Manaus e Goiânia estão no estágio de alerta. Natal e Porto
Alegre realizaram levantamento por armadilha, utilizada quando a infestação do
mosquito é muito baixa ou inexistente. Boa Vista, Belo Horizonte, Curitiba,
Florianópolis e Campo Grande não enviaram informações.
O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Virologia e
professor da Universidade Feevale, localizada no município de Novo Hamburgo
(RS), Fernando Rosado Spilki, considerou “impressionante” o índice de
infestação no Brasil. Spilki disse que os riscos de ocorrência de novos surtos
são elevados, pois, no caso da chikungunya, por exemplo, a população imune,
inclusive por já ter contraído a doença, é relativamente baixa.
Para Spilki, a manutenção desse patamar de incidência, poucos
anos após surtos de doenças terem chamado a atenção do país, reflete a falta de
políticas que integram ações preventivas eficazes e de conscientização da
população. O professor acrescentou que a situação deriva também de outros
problemas, como a urbanização precária das cidades brasileiras e a
descontinuidade no fornecimento de água, o que faz com que parte da
populaçãotenha de armazená-la, o que
pode gerar criadouros de mosquitos.
As características do Aedes aegypti também dificultam o
combate, o que amplia o desafio de superar o problema. “Hoje, a praga número 1
a ser combatido é exatamente o Aedes aegypti, que tem entrado em muitos
municípios, inclusive expulsando outras espécies, como o Aedes albopictus. E o
aegypti tem a característica de não só ficar ao redor da casa, mas de entrar na
casa, o que dificulta o combate”, detalhou Spilki.
O professor ressaltou que o Brasil não é o único país que
sofre com o problema. “Há uma recrudescência dessa situação em toda a América
do Sul. Há relatos de aumento de casos de doenças transmitidas no Peru e no
Equador, acompanhando a situação brasileira. Não é, portanto, uma coisa
exclusiva nossa, mas, como país, precisamos tomar uma ação de prevenção e
vigilância, porque nossa população é muito grande.”
O Ministério da Saúde informa que as ações de prevenção e
combate ao Aedes aegypti são permanentes e tratadas como prioridade. Entre as
medidas tomadas para combater o mosquito está a criação da Sala Nacional de
Coordenação e Controle, que orienta e articula ações contínuas ao longo do ano
com governos estaduais e municipais para combate ao vetor e monitora a situação
epidemiológica e as atividades para enfrentamento do mosquito. Além disso, os
recursos para as ações de vigilância em saúde cresceram nos últimos anos,
passando de R$ 924,1 milhões, em 2010, para R$ 1,94 bilhão em 2017.
Para este ano, a previsão é que o orçamento de vigilância em
saúde para os estados chegue a R$ 1,9 bilhão.
0 comentários:
Postar um comentário