A disseminação de notícias falsas pelas redes sociais,
conhecidas pelo termo em inglês fake news, está diretamente ligada à crise de
credibilidade no jornalismo tradicional, segundo os especialistas que
participaram hoje (4) do seminário Desafios da Internet no Debate Democrático e
nas Eleições. O evento foi promovido pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil.
Para o professor de teoria da comunicação da Universidade
Federal da Bahia, Wilson Gomes, grande parte do público que consome notícias
tem dificuldade em entender o que é a prática jornalística profissional. “A
crise de credibilidade do jornalismo é parte do problema das fake news
[notícias falsas, em inglês]. Se o cidadão acha que, para uma coisa gozar da
credibilidade do jornalismo, basta parecer jornalismo, do ponto de vista da
diagramação e da retórica factual, então, ele não distingue mais o que é
jornalismo”, disse.
O especialista atribui o problema a uma perda da confiança
dos meios tradicionais de comunicação nos últimos anos. “Desde 2014, há uma
erosão na credibilidade do jornalismo. O cara que vê aquilo ali não sabe, acha
que o jornalismo também é aquilo ali: é parcial, é distorcido, é ativista, está
em campanha”, analisou. Esse cenário deverá, na opinião de Gomes, ter impacto
direto nas eleições deste ano. “Esse vai ser o ciclo eleitoral brasileiro em
que o jornalismo tem a menor taxa de credibilidade possível”, enfatizou.
“Nós temos uma grande
parcela de culpa nessa história toda, porque nós deixamos de ser confiáveis
pela população de um modo geral”, concordou a jornalista Cristina De Luca,
responsável pelo blog Porta 23. Para ela, trata-se de um fenômeno mundial.
O jornalista Leonardo Sakamoto, diretor da organização não
governamental Repórter Brasil, acredita que há um problema de formação, em que
parte do público não compreende as diferenças entre opinião e informação. “A
questão é anterior. Não é que as pessoas não sabem o que é fake news. As
pessoas não sabem diferenciar notícia de opinião. As pessoas apontam para uma
análise econômica e dizem que é fake news porque não concordam com o viés de
interpretação”, ressaltou.
O membro do coletivo Intervozes Jonas Valente criticou os
meios de comunicação tradicionais que, para ele, nunca tiveram compromisso com
o jornalismo e a informação de qualidade. “A gente sabe, o Brasil é um exemplo
disso, em que a dita mídia tradicional consegue fazer muita notícia falsa e
desinformação”, afirmou.
Ferramentas pagas
No entanto, Valente acredita que o problema da manipulação de
informações vai além das notícias falsas. Ele destacou como preocupantes o uso
de informações pessoais para adequar os discursos a diferentes tipos de
público. Esse tipo de estratégia já teria sido usada, por exemplo, na campanha
do atual presidente norte-americano Donald Trump.
Para o ativista, o recurso pode ser associado a ferramentas
pagas, disponibilizadas pelas redes sociais e plataformas de busca, em que são
oferecidos anúncios de acordo com o perfil do usuário. O uso desse tipo de
recurso foi liberado na reforma eleitoral aprovada pelo Congresso Nacional em
outubro de 2017. “A propaganda paga, na minha opinião, é um problema tão grave
quanto a questão das notícias falsas, porque ela pode fazer aquilo que a gente
chama de ‘o candidato de várias caras’. Ou seja, para cada pessoa, esse
candidato é uma coisa”, ressaltou.
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